Desenvolvido pelos mestres e pesquisadores Mauro Alvarez, Amaury Couto e Altair Bertonha, o projeto de extração iniciado em 1981 se mantem em constante aperfeiçoamento e, hoje a Stevia é utilizada para adoçar bebidas no mundo todo.
Sempre que se fala em pesquisa na Universidade Estadual de Maringá (UEM) é inevitável que se refira ao Projeto Stevia rebaudiana, que resultou na primeira patente desenvolvida na universidade, na implantação do Núcleo de Estudos em Produtos Naturais (Nepron) e abriu portas para que a universidade maringaense se destacasse na área de pesquisas.
A partir do Projeto Stevia, a UEM já conquistou 51 cartas-patente, depositou 189 pedidos de patente junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), sendo 132 como única titular e outros 57 em regime de cotitularidade com outra instituição. Com a conquista da patente, o Projeto Stevia até hoje é apontado como um dos fatores que alavancaram as pesquisas na UEM, que hoje são uma marca da universidade.
COMO SURGIU A EXTRAÇÃO DO EDULCORANTE
O projeto nasceu em 1981 da cabeça do professor doutor Mauro Alvarez, primeiro professor do curso de Farmácia e Bioquímica da UEM. Pesquisador respeitado pelos trabalhos já desenvolvidos nas universidades que trabalhou antes, como a Federal do Paraná, é lembrado pelos mais antigos como “o cara que foi pro mato conversar com os índios sobre aquela plantinha que eles usavam para adoçar suas bebidas”. E é verdade.
O professor Alvarez era tremendamente curioso, mas teve um outro fator que o levou para a mata: sua mãe era diabética e sofria muito por causa da doença, chegando ao ponto de sofrer amputações. “Ele anteviu que era possível extrair o edulcorante da planta e começou a trabalhar na realização de sua ideia”, conta o também pesquisador Amaury Couto, que foi um dos parceiros do professor Alvarez na pesquisa.
Segundo Couto, na época várias universidades realizavam estudos da stévia, “mas eles pesquisavam a planta e o Mauro estava interessado no processo para a extração do edulcorante”. E ele conseguiu. Localizou alguns pés de stevia e desenvolveu técnicas para extrair o edulcorante. “Mas, foi uma extração simples, meio caseira, e ele estava em busca de meios para a industrialização da planta, como já ocorria com outras plantas de onde se extraía açucares”. Conta Couto. “Ainda não era o processo”. EQUIPE MULTIDISCIPLINAR O professor Mauro Alvarez não tinha como desenvolver sozinho o projeto do processo e foi aí que a Universidade Estadual de Maringá decidiu investir no projeto.
Foi criado o Núcleo de Estudos em Produtos Naturais (Nepron), com laboratório completo, destinou uma área de três hectares na Fazenda Experimental, em Iguatemi, para o plantio da stevia que seria usada no estudo, e estruturou uma equipe multidisciplinar, com pesquisadores de outros cursos, além do de Farmácia e Bioquímica.
PRÊMIO GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO
O Departamento de Agronomia foi representado, inicialmente, pelos professores Altair Bertonha e José Walter Pedroza Carneiro, o curso de Engenharia Química foi representado pelo professor Amaury Couto. “Ele queria um engenheiro e quando eu soube do que se tratava eu me ofereci”, diz Couto. Depois passou a integrar a equipe também o agrônomo William Mário de Carvalho Nunes, que acabava de se formar no curso de Agronomia da UEM e foi o encarregado de fazer a seleção das plantas no canteiro da Fazenda Experimental.
Vários professores e estudantes em algum momento contribuíram com a pesquisa, todos coordenados por Mauro Alvarez. Nesse momento entra em cena um parceiro fundamental: o Banco do Brasil, que financiou o projeto por meio do Fundo Incentivo à Pesquisa e Ciência.
O grupo multidisciplinar passou a estudar aspectos relativos à segurança de produtos de stevia, além de desenvolver tecnologias que permitiram a exploração comercial do esteviosídeo. Pelo trabalho e o desenvolvimento de tecnologias para utilização da stevia, Alvarez, Amaury, o Banco do Brasil e a UEM receberam, em 1984, o Prêmio Governador do Estado de São Paulo. A partir daí a universidade deu entrada ao pedido de registro da patente.
EM 1980 ELA ERA MATO
Os professores Alvarez e Amaury receberam o prêmio na condição de inventores e dedicaram a honraria aos demais que em algum momento participaram da pesquisa. A patente foi obtida em 1989 e logo apareceram indústrias interessadas em produzir adoçantes. A Universidade de Maringá fez o processo de transferência de tecnologia para a iniciativa privada, a empresa Ingá Stevia Industrial, ligada à Usina Santa Terezinha, de Maringá, foi a primeira a explorar a stevia comercialmente, mas hoje há centenas de empresas adoçando a vida do povo com o edulcorante extraído da planta que até a década de 1980 era mato.
O pesquisador Mauro Alvarez faleceu em 2007, sempre foi defensor da stevia, com essa finalidade encaminhou uma série de documentos ao Food and Drug Administration (FDA), órgão do governo dos Estados Unidos responsável pelo controle dos alimentos, tanto humano como animal, fornecendo dados e discutindo aspectos relacionados à segurança do produto.
PESQUISAS AINDA AVANÇAM
A UEM continua as pesquisas com a stevia, Altair Bertonha e William Nunes são professores do curso de Agronomia da UEM e Amaury Couto deixou a vida de professor e empreendeu na instalação de uma empresa do ramo alimentício, a Lightsweet, Lowçucar e Magro, que começou produzindo uma série de produtos a partir de um adoçante extraído de uma plantinha que até alguns anos atrás era mato, que não causa diabetes, não contém calorias, não altera o nível de açúcar no sangue e ainda inibe a formação de placa e de cárie dental.
Essa plantinha há muitos séculos, talvez milhares de anos, já era usada pela Nação Guarani para adoçar suas bebidas, uma plantinha chamada zuca-caá, caá-hé-e, caá-jhe-hê, caá- -yupi, capim-doce, eira-caá, erva-adocicada, folha-doce, planta-doce, hah’e ou estévia.
Fonte | Crédito: Revista Agronomia Maringá | Editora Dia a Dia
Diretora Geral | Pamela Maria Tiburcio.